Um concerto que se transforma em redescoberta, um recital que abraça, com delicadeza e profundidade, a missão de trazer de volta à luz o repertório de música de câmara italiana – tantas vezes relegado às margens dos programas de concerto. A soprano Michela Sburlati, célebre voz dramática de timbre wagneriano e harmônicos líricos extraordinários, e o pianista e maestro Maurizio Colacicchi, artista de rara sensibilidade, com a colaboração do violinista Dhyan Toffolo, conduzem o público por uma experiência sonora intensa, luminosa e surpreendentemente atual, que percorre o final do século XIX e o início do XX.
A primeira parte do programa gira em torno da figura de Pier Adolfo Tirindelli, compositor culto e refinado, cuja escrita sofisticada despertou, na época, a admiração de Franz Liszt. O percurso prossegue com Mario Pasquale Costa, cuja melodia construída a partir do tema popular Fenesta ca Lucive evoca a memória poética de uma Nápoles atemporal. Seguem-se Stanislao Gastaldon – inesquecível autor de Musica Proibita – e Francesco Cilea, que traz à tona a sua Tilda, obra resgatada após um século de esquecimento.
Na segunda parte, a homenagem a Nápoles torna-se ainda mais direta e vibrante: canções menos conhecidas, mas profundamente evocativas, de Francesco Paolo Tosti, Umberto Giordano e Francesco Paolo Frontini compõem um mosaico de emoções e memórias sonoras. O encerramento cabe à Fantasia Napoletana, de Maurizio Furlani, escrita especialmente para esta ocasião: uma peça que entrelaça voz, piano e violino em um jogo virtuosístico e poético, conduzindo o ouvinte por um percurso melódico repleto de brilho, lirismo e paixão.
Harmonias Redescobertas não é apenas um recital vocal – é um gesto de resgate cultural, um ato de amor pela identidade musical italiana e por suas múltiplas vozes, que continuam a contar nossa história, nossa poesia e nossa alma.
Michela Sburlati
Michela Sburlati é uma das sopranos italianas mais prestigiadas da atualidade. Formou-se com louvor em harpa e canto, aperfeiçoando-se com mestres como Margaret Baker, Mietta Sighele e Veriano Luchetti. Estreou ainda muito jovem como protagonista na ópera A Médium, de Menotti, e consolidou sua carreira ao vencer importantes concursos, como o Mattia Battistini e o Madama Butterfly de Viareggio.
Ao longo de sua trajetória, interpretou papéis de destaque em obras como La Bohème, Turandot, Suor Angelica e Manon Lescaut, de Puccini; Il Duca d’Alba, de Donizetti; Capriccio, de Richard Strauss; e Das Rheingold, de Wagner. Apresentou-se nos principais teatros e festivais da Itália e do exterior, incluindo a Arena de Verona, o Festival dei Due Mondi de Spoleto, o Teatro dell’Opera de Kazan e o Festival de Erl, na Áustria.
Entre seus reconhecimentos, destaca-se o Prêmio Gianni Poggi, recebido por sua interpretação de Chrysothemis na ópera Elektra, de Richard Strauss – performance que lhe rendeu elogios unânimes da crítica internacional. Michela também participou de gravações de relevância, como o Requiem, de Verdi, Tristan und Isolde, de Wagner, e Adelia, de Donizetti.
Além da carreira nos palcos, é professora de canto no Conservatório de Santa Cecilia, em Roma, e ministra regularmente masterclasses em importantes instituições internacionais, formando e inspirando novas gerações de cantores líricos. Técnica impecável, sensibilidade interpretativa e uma busca constante pela excelência artística fazem de Michela Sburlati uma referência no cenário operístico contemporâneo.
Maurizio Colacicchi
Maurizio Colacicchi é pianista, maestro e professor de projeção internacional. Sua formação combina os estudos musicais em Zagreb e Roma – onde se diplomou em piano pelo Conservatório Santa Cecilia – com um percurso humanístico de grande amplitude, desenvolvido entre a Iugoslávia, Espanha e Tunísia. Em Londres, obteve o Diploma em Música Vocal de Câmara pelo National College of Music, e paralelamente aprofundou estudos em ciências políticas e letras modernas (com foco em musicologia) na Universidade La Sapienza, em Roma.
Artista de trajetória cosmopolita, destacou-se como especialista em música vocal de câmara – italiana e espanhola – mantendo ao mesmo tempo uma forte ligação com o repertório operístico. Apresentou-se em teatros e festivais de prestígio, como o Festival Pucciniano, o Luglio Musicale Trapanese, a Suntory Hall de Tóquio, o Teatro Regio de Parma, o Teatro La Fenice de Veneza, além de mais de quarenta países na Europa, Ásia, Américas, África e Oceania.
Como diretor artístico, conduziu festivais e cursos internacionais de alto nível, colaborando com grandes nomes da lírica mundial, como Piero Cappuccilli, Ghena Dimitrova, Mariella Devia e Katia Ricciarelli. É responsável por cursos de aperfeiçoamento em diversas partes do mundo – de Tóquio a Seul, de Lima a Montevidéu – promovendo a divulgação e o ensino do Bel Canto italiano, da zarzuela e da música vocal de câmara.
Foi professor em vários conservatórios italianos – incluindo Perugia, L’Aquila e Latina – além de docente de Bel Canto no Teatro Colón de Buenos Aires e no Teatro de Bellas Artes da Cidade do México. Atualmente, leciona Zarzuela Espanhola na Accademia del Maggio Musicale Fiorentino. Realizou gravações para emissoras e selos internacionais, como RAI, Victor e Synnara Music, publicou canções de câmara e dirigiu produções operísticas no Japão. Poliglota, fala cinco idiomas e se distingue por uma combinação rara de rigor musical, sensibilidade artística e uma profunda vocação pedagógica.
Programa: Em memória de Luis López
Primeira Parte
Quase esquecidos em uma gaveta …
Pier Adolfo Tirindelli
- Chi sa?! … (versos de Contessa Lara)
- Dispetto (versos de di Emilio Bicci)
- Ritorno (versos de Vittoria Aganoor Pompili)
- Sperando – Sognando! … (versos de Enrico Golisciani)
- V.?… (versos de Vittoria Aganoor Pompili)
Mario Pasquale Costa
- Un Organetto Suona per Via (versos de Lorenzo Stecchetti)
Stanislao Gastaldon
- Tramonto (versos de Giuseppe Pignoni)
- Notte Silenziosa (versos de Fausto Salvatori)
- Notturnino (para piano solo)
Francesco Cilea
- Canzone di Tilda, da ópera La Tilda
Segunda Parte
… e depois vem Nápoles!
Francesco Paolo Tosti
- Tutto se Scorda (canção napolitana)
- Chissà! (antiga canção napolitana)
Umberto Giordano
- Serenata Malinconica
- Suonno ‘e Rose (versos de Giovanni Zaccara)
Francesco Paolo Frontini
- Notturno (para piano solo)
Maurizio Furlani
- Fantasia Napoletana (para canto, violino e piano)
Realização:
Istituto Italiano di Cultura do Rio de Janeiro
Recital vocal ‘Harmonias Redescobertas’, com Michela Sburlati e Maurizio Colacicchi
Data: 16 de julho de 2025
Horário: 18h30
Local: Teatro Itália – Av. Pres. Antônio Carlos, 40 / 4º andar – Centro, Rio de Janeiro (RJ)
Entrada: Franca. Para participar, inscreva-se online pelo Sympla