Com toques surrealistas e um passeio entre gêneros literários, ‘O Nascimento e a Morte da Dona de Casa’ é um livro em que a autora Paola Masino experimenta e se inspira no modernismo e antecipa o protesto contra a condição social da mulher, confinada ao seu papel reprodutivo e doméstico.
Escrito no entre guerras e finalizado depois da era fascista, o romance conta a história de uma menina extremamente sagaz que vive os seus primeiros anos num baú, entre livros, migalhas de pão e lamentos de sua família, principalmente a mãe, que a acusa de ameaçá-la a morrer de desgosto.
O estranhamento inicial com essas cenas fantásticas vai acostumando as leitoras e leitores ao que Paola Masino apresenta em seguida. Um baile também meio surrealista, para o qual ela se prepara por dias tomando banhos para tirar a crosta de poeira agarrada ao corpo pelos anos no baú, com personagens caricatos da sociedade, o casamento com o tio mais velho e a entrada na sociedade. Como pano de fundo, os afazeres domésticos, os encontros oníricos com um homem pelo qual se apaixona e que a provoca a desviar de seu destino de dona de casa e a guerra.
Tudo isso através de uma narrativa que vai do romanesco ao teatral, passando pelo diarístico e ensaístico, que expõe uma realidade cruel: a função da mulher na sociedade, ainda mais num regime fascista. Com referências à Bíblia, a Shakespeare e a Virginia Woolf, Paola Masino escreve uma obra desafiadora, refinada e subversiva, com um protesto contra o patriarcado que outra conterrânea sua, Silvia Federici, vai desenvolver a partir da década de 1970.
Obs.: Vale uma nota sobre a edição cuidadosa da editora Instante. O livro tem tradução e posfácio de Francesca Cricelli, organização e nota sobre o texto de Elisa Gambara e introdução de Nadia Fusini.
Paola Masino
Intelectual versátil e figura notável nos círculos literários e artísticos do século XX, Paola Masino (Pisa, 1908 – Roma, 1989) produziu romances, contos, poemas e libretos de ópera e trabalhou como tradutora e jornalista. Em 1924, sua primeira peça, ‘Le tre Marie’, recebeu palavras de encorajamento de Luigi Pirandello, que era um de seus grandes ídolos. O encontro com Massimo Bontempelli, já um escritor famoso e trinta anos mais velho, data de 1927: a relação sentimental e profissional vai durar a vida toda. Juntos, foram perseguidos pela ditadura fascista, mas isso não os intimidou no trabalho crítico ao regime em seus livros e inúmeros periódicos em que colaboravam.
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Realização:
Istituto Italiano di Cultura do Rio de Janeiro
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Clube de Leitura de Autores Italianos: Paola Masino
Data: 30 de agosto de 2023
Horário: 18h
Onde: Istituto Italiano di Cultura – Av. Pres. Antônio Carlos, 40 / 4o andar – Centro
Entrada: A pagamento. Os interessados deverão inscrever-se através do WhatsApp (21) 99857.8762 ou pelo e-mail centro.iicrio@esteri.it