Uma voz que atravessa séculos e mitologias ganha nova forma no Centro Cultural Banco do Brasil, onde as celebrações pelo centenário de Andrea Camilleri assumem a expressão da peça teatral Duas Conversas com Tirésias. Sob a direção de Alessandra Vannucci, a interpretação de Giovanna de Toni e a música original de Beto Lemos transformam o monólogo do ‘Maestro’ em uma experiência que entrelaça mito e autobiografia, memória e invenção.
O espetáculo percorre as nove existências do adivinho cego que foram narradas em vinte e cinco séculos de literatura, desde a tragédia grega até a poesia contemporânea. Nesta metamorfose ambulante, Tirésias aparece sob inúmeras vestes incorporando diversos gêneros e evocando outras personagens. Duas conversas, a primeira com a sacerdotisa do templo de Delfos à qual Tirésias sugere pronunciar os dois oráculos que determinam o destino de Edipo; a segunda com o público sentado na sala, revelam facetas inéditas e surpreendentes de sua celebérrima personalidade.
A encenação apresentada no Centro Cultural também presta homenagem à fragilidade do escritor, que havia partilhado: Desde que Zeus … decidiu tirar-me novamente a visão, senti a urgência de compreender o que é a eternidade. Uma confissão que se converte em chave interpretativa de todo o monólogo.
O último desejo pronunciado por Camilleri – Gostaria que nos reencontrássemos todos, aqui, numa noite como esta, daqui a cem anos! – ressurge hoje, no centenário de seu nascimento, como uma profecia realizada: um convite a ouvir novamente sua voz, viva, luminosa e inesgotável.
Andrea Camilleri
Andrea Camilleri (Porto Empedocle, 1925) foi um dos autores mais amados e influentes da literatura italiana contemporânea. Sua carreira abrangeu direção teatral, narrativa, roteiros televisivos e ensaios, com um estilo imediatamente reconhecível pela capacidade de unir ironia, perspicácia psicológica e um uso habilidoso do dialeto siciliano.
Camilleri é mundialmente conhecido pela criação do comissário Salvo Montalbano, protagonista de uma série de romances policiais iniciada com La Forma dell’Acqua (1994), que transformou o gênero policial italiano e colocou a Sicília no centro do imaginário literário nacional e internacional. Entre suas obras mais representativas estão Il Cane di Terracotta (1996), Il Ladro di Merendine (1996), La Voce del Violino (1997) e La Gita a Tindari (2000), além de diversos contos e peças teatrais, nos quais a Sicília, com suas contradições e seu fascínio, torna-se protagonista.
Ao longo de sua carreira, Camilleri recebeu diversos prêmios, incluindo o Prêmio Campiello de Literatura, o Prêmio Flaiano, o Prêmio Grinzane Cavour e o Prêmio Mondello, além de honrarias acadêmicas e culturais que reconheceram sua importância na difusão da língua e da cultura italianas. Sua obra inspirou séries televisivas de grande sucesso, adaptações teatrais e estudos críticos ao redor do mundo, confirmando seu papel de autor capaz de unir entretenimento e profundidade cultural.
Andrea Camilleri permanece uma voz insubstituível da narrativa italiana, capaz de narrar o real com leveza e precisão, transformando cada história em um entrelaçamento de humanidade, memória e investigação literária.
Realização:
Istituto Italiano di Cultura do Rio de Janeiro
Colaboração:
Centro Cultural Banco do Brasil
Duas Conversas com Tirésias: Fantasia a partir de um monólogo de Andrea Camilleri
Data: 11 de dezembro de 2025
Horário: 18h30
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – R. Primeiro de Março, 66 – Centro, Rio de Janeiro (RJ)
Entrada: Franca. Para participar, inscreva-se online pelo Sympla